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Diesel causa aumento do frete rodoviário que irá pesar no preço dos alimentos
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O país é dependente do transporte rodoviário e alteração no preço do combustível tem efeito cascata na economia.
- Por Camilla Ribeiro
- 09/02/2025 13h46 - Atualizado há 1 mês
Na última semana a Petrobras anunciou o aumento de R$ 0,22 por litro no diesel. Esse aumento deve ter impacto de 2% a 2,5% no segmento de transporte rodoviário de cargas.
O aumento nesse segmento apresenta reflexos nos produtos que chegam aos supermercados, farmácias e lojas pelo país.
De acordo como assessor técnico da NTC&Logística, Lauro Valdivia, o aumento da Petrobras deve levar cerca de duas semanas para chegar às bombas.
“Mas a gente já estima, pelo valor da Petrobras, que vai ser mais ou menos de 2% a 2,5% a mais no frete só desse último aumento”, disse.
No Brasil, mais da metade da carga transportada circula pelas rodovias. Dessa maneira, o país depende do transporte rodoviário para abastecer a população com alimentos, remédios e outros produtos.
Em consequência disso, todos esses itens são afetados por eventuais aumentos no preço do óleo diesel, combustível usado pelos caminhões, e que representa cerca de 35% do valor do frete.
André Braz, coordenador dos Índices de Preços do FGV Ibre, diz que é difícil identificar com precisão quando esse aumento vai chegar aos produtos
“O diesel é um combustível estratégico, tem impacto na inflação, mas é muito complexo medir o quanto isso vai bater em cada produto, o quanto isso vai aumentar o preço de cada produto, e quando isso tende a aparecer na inflação ao consumidor”, afirmou.
Segundo Braz, o aumento irá acontecer, só que não é possível saber quando. Isso porque depende do repasse do valor do combustível ao frete rodoviário, cujos contratos estabelecem preços fixos com renegociação anual.
Dessa maneira, os caminhoneiros “freelancers”, que trabalham por conta própria, devem ser mais rápidos para repassar a alta do diesel, à medida que comecem a abastecer com o combustível mais caro.
Dependência rodoviária
Não é apenas pelos caminhões que o diesel impacta indiretamente a inflação ao consumidor.
Outras máquinas, em outros setores também fazem uso de combustível: máquinas agrícolas, na geração de energia elétrica por usinas termelétricas e ônibus urbanos.
Porém, a dependência do transporte rodoviário no Brasil faz com que todos os produtos que chegam ao consumidor tenham uma parcela do diesel na sua composição de preços.
“O efeito indireto do diesel na inflação é muito grande. Qualquer alimento que você consuma em um grande centro urbano chegou lá via transporte rodoviário, [seja] um pacote de arroz ou mesmo um carro”, afirmou Braz.
O economista aponta que a parcela do diesel varia de acordo o valor agregado de cada produto.
Dessa forma, o impacto do combustível nos alimentos é maior que em eletrodomésticos, eletrônicos e carros, por exemplo, que também são transportados por caminhões.
“O problema do Brasil é que a gente tem longas distâncias que poderiam ser feitas por navios através da cabotagem [navegação ao longo da costa] ou pelo trem. E, hoje, essas rotas estão sendo feitas pelo caminhão, que não deveria porque o caminhão custa mais caro”, afirmou Valdivia.
De acordo com o especialista da NTC&Logística, mesmo que o país invista mais em outras modalidades de transporte, como a cabotagem, a navegação interior ou as ferrovias, as rodovias ainda serão importantes para levar os produtos até os locais de consumo, mesmo que por distâncias menores.
“Mas falar que o trem, o navio vai substituir o caminhão... isso esquece. Não vai, porque nunca vai deixar na porta da farmácia, do supermercado ou no shopping. Vai depender do caminhão para fazer isso”, destacou.