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Oficiais do exército foram investigados por carta para pressionar comandante a aderir a golpe, mas não revela punições
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O documento é alvo de investigação da PF. O argumento que foi apresentado para não divulgar informações se assemelha ao usado para manter processo contra Pazuello em segredo.
- Por Camilla Ribeiro
- 30/03/2024 06h32 - Atualizado há 8 meses
De acordo com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, oficiais assinaram uma carta que, tinha "clara ameaça de atuação armada" após as eleições de 2022.
O Exército não esclareceu quais foram as punições adotadas para os oficiais.
Foi informado que houve processo disciplinar contra 46 oficiais que assinaram o documento, mas não revelou quantos nem quais foram punidos pela ação.
Essa informação consta de resposta dada pelo gabinete do Comandante do Exército a pedido feito por meio da Lei de Acesso à Informação.
O documento foi intitulado como "Carta ao Comandante do Exército de Oficiais Superiores da Ativa do Exército Brasileiro" esse é um ponto importante as investigações realizadas pela Polícia Federal acerca da participação de militares na tentativa de Golpe de Estado.
Segundo a PF, o documento foi "utilizado como instrumento de pressão ao então Comandante do Exército General Freire Gomes".
Pressão para aderir a golpe
Ao depor na Polícia Federal, no dia 2 de março, Freire Gomes foi questionado sobre a carta e declarou que ficou sabendo da existência dela por meio da Comunicação Social do Exército.
Ao ser perguntado se o documento foi feito para pressioná-lo "a aderir ao Golpe de Estado", o general respondeu que sim e informou que "determinou que fosse feita uma apuração em todos os Comandos de Área para que identificassem e tomassem as providências cabíveis" para identificar quem participou da carta.
O ex-comandante afirmou também que "foi identificada a participação de alguns militares que foram punidos na medida de suas participações no ato" e disse não considerar lícito que oficiais da ativa das Forças Armadas se manifestem politicamente, como ocorreu no documento.
O general Tomás Paiva, atual comandante do Exército solicitou uma análise mais profunda para descobrir se houve punição para os envolvidos.
Militares que foram interrogados
O documento que está sendo alvo da investigação foi encontrado no celular do tenente-coronel e ex-ajudante de ordens da Presidência, Mauro Cid.
A suspeita dos investigadores é que o documento tenha sido produzido durante uma reunião de militares em novembro de 2022.
O coronel Bernardo Romão Correa Neto foi interrogado sobre ter enviado a carta a Cid logo após a reunião, porém disse não saber quem elaborou o documento, negou que ela tenha sido redigida na reunião e disse não concordar com o conteúdo do texto.
Outro militar que também foi interrogado sobre o tema é o tenente-coronel Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros, que, segundo a PF, era integrante do “núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral”.
Em depoimento à Polícia Federal Cavaliere disse que chegou a assinar o documento, mas depois retirou a assinatura e orientou outros a retirarem.
O oficial informou também à PF ter ouvido de Cid que o então presidente Bolsonaro sabia da carta.
Outros militares que também foram ouvidos pela PF negaram o envolvimento com o documento.