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  • Rápido envelhecimento da população pode sobrecarregar saúde pública e Previdência


  • Esse cenário altera a dinâmica de produção e causa reflexos no mercado de trabalho e no PIB. Segundo especialistas, país ainda é lento em se adaptar à mudança demográfica.

O Censo de 2022 apresentou novos dados que foram divulgados nesta sexta-feira (27) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Esses dados mostraram que a idade mediana do brasileiro passou de 29 anos em 2010 para 35 anos em 2022.

Isso aponta que metade da população brasileira tem até 35 anos, e a outra metade é mais velha que isso. 

Brasil registrou e 2022 o maior salto de envelhecimento entre dois censos desde 1940, passando a ter 55 idosos para cada 100 jovens.

A expectativa para o país é ter cada vez menos jovens e cada vez mais idosos, essa transição aumenta os desafios para a economia brasileira.

Na prática, quanto mais a população envelhece, menor é o número de pessoas em idade ativa e produzindo.

Esse movimento mexe com a dinâmica produtiva e provoca reflexos no mercado de trabalho e no Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços. E sobrecarrega a Previdência e a saúde pública.

Medidas estruturais

De acordo com economistas, o Brasil precisa aplicar medidas estruturais e de longo prazo para sustentar o envelhecimento da população. A expectativa, porém, é que o país ainda demora a agir.

“Nós estamos sempre atrasados. Não fizemos as reformas quando o país era mais jovem, e não fizemos quando começou a envelhecer. Mudanças demográficas são mais previsíveis. Se conseguimos prever, deveríamos agir de maneira mais adequada”, disse Luis Eduardo Afonso, professor da USP e especialista em Previdência.

Para Luis Eduardo Afonso, a reforma da Presidência que foi aprovada em 2019 foi essencial, mas não o suficiente. 

Ele enfatiza que o texto deixou pontos importantes em aberto e precisarão ser revisados nos próximos anos.

A principal falha, segundo ele, seria justamente a exclusão de um trecho relacionado ao envelhecimento da população. 

Um dos pontos que foi vetado estabelecia o aumento automático da idade de aposentadoria conforme o aumento da expectativa de vida dos brasileiros.

"Essa precisa ser uma regra automática", diz. "É um sistema já aplicado em países da Europa."

Rombo previdenciário

De acordo com estimativas da Secretaria do Regime Geral de Previdência Social do Ministério da Previdência Social, o déficit do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) deve mais que dobrar até 2060 e quadruplicar até 2100.

Os números que constam na proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024. Segundo o governo, o rombo previdenciário previsto para esse ano é de R$ 276,9 bilhões, o equivalente a 2,6% do PIB.

A projeção feita é que o resultado negativo avançará em 2060 para R$ 3,3 trilhões ou 5,9% do PIB e, em 2100, para R$ 25,22 trilhões, 10,4% do PIB.

Avanço social e mercado de trabalho

Marcelo Neri, diretor do FGV Social, aponta que, nos últimos 35 anos, o Brasil fez o dever de casa em questões sociais, com avanços na expectativa de vida, no número de crianças na escola e queda da pobreza. No entanto deixou a desejar na economia.

O especialista disse que o Brasil é um caso especial de mudança demográfica acelerada, "talvez só comparável à China", e aponta que as reformas implementadas no Brasil costumam ter efeitos limitados.

Neri aponta como alternativa a adoção de medidas que busquem reinserir os aposentados no mercado de trabalho, o que seria um grande desafio.

"A população idosa tem 3,3 anos de estudo menos do que a média. Isso porque, quando eles foram para o sistema escolar na fase deles, muitos não estudaram nada. O sistema escolar brasileiro era precário. Então, também há essa dificuldade", explica.

Outro obstáculo para a reinserção desse público no mercado de trabalho seria a taxa de conectividade ou de internet em casa, que é a metade em comparação com o resto da população, segundo o especialista.

"Temos que pensar em formar equipes de trabalho mais diversas, também com diferentes faixas etárias. Mas isso não é uma tarefa simples. Envolve uma mudança cultural", conclui.