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  • Ibovespa atinge seu maior nível durante o ano


  • O índice acumulou um avanço de 5,09% no mês e alcançou os 134.153 pontos. Veremos, em três fatores, o que impulsionou o mercado de ações brasileiro nos últimos dias.

Nesta quinta-feira (15), o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa de valores brasileira, a B3, fechou em alta pela oitava sessão consecutiva.

Com o resultado apresentado, acumulou um avanço de 5,09% no mês, alcançando os 134.153 pontos, maior patamar atingido no ano e muito próximo da máxima histórica.

O movimento foi impulsionado, pelos ânimos dos investidores com a expectativa de corte de juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Outros fatores importantes também têm colaborado com o bom momento do Ibovespa.

Vejamos cada um deles a partir dos tópicos abaixo:

-A sinalização de corte de juros pelo Fed;

-O tom do Banco Central do Brasil;

-As declarações sobre o arcabouço fiscal.

Sinalização de corte de juros pelo Fed

Em  julho, o Fed decidiu fazer a manutenção dos juros do país inalterados na faixa de 5,25% a 5, 50% ao ano.

Esse movimento, já era esperado pelo mercado, veio acompanhado de uma sinalização importante: um possível corte da taxa na próxima reunião que ocorrerá em setembro.

Na época, o presidente do Fed, Jerome Powell, relatou que um corte nos juros poderá "estar na mesa" caso os dados econômicos do país caminhem conforme o esperado.

“As leituras de inflação do segundo trimestre aumentaram nossa confiança, e novos dados positivos fortaleceriam ainda mais essa confiança", declarou Powell.

Desde julho de 2023, os juros dos Estados Unidos estão no maior patamar em mais de 22 anos .

A taxa atingiu esse ponto porque, a partir de 2022, o BC norte-americano alcançou sucessivas altas, na busca de conter a inflação provocada pela pandemia de Covid-19.

Esse movimento se reflete em outros países, inclui no Brasil. Juros mais altos nos EUA aumentam a rentabilidade dos Treasuries (títulos públicos norte-americanos). 

Esses movimentos se referem nos mercados de ações e no dólar, com a migração cada vez maior de investidores para o país, atrás de melhor remuneração.

Dessa maneira, uma sinal de queda nos juros dos Estados Unidos causa otimismo ao mercado de ações brasileiro: com uma possível redução da taxa, os rendimentos na economia mais segura do mundo tendem a diminuir, forçando os investidores a tomarem mais risco. Isso beneficia o mercado de ações por aqui.

"A probabilidade de corte nos EUA a partir de setembro é positiva para os ativos de risco globais e para mercados emergentes. E a bolsa brasileira navega bem nesse sentido", disse Frederico Nobre, líder de análise da Warren Investimentos.

Um novo fator aumentou a confiança dos investidores com um corte dos juros pelo Fed em setembro: a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor dos EUA (CPI, na sigla em inglês), na última quarta-feira (14).

O índice apresentou uma alta de 0,2% em julho, acumulando uma alta de 2,9% em 12 meses. Excluindo os componentes voláteis da inflação — alimentos e energia —, o CPI subiu 0,2% em julho e 3,2% em 12 meses, no menor aumento anual desde abril de 2021.

Mesmo com o resultado continuando acima da meta do Fed, de 2%, o mercado analisa que o comportamento mais benigno dos preços abre espaço para o primeiro corte nos juros desde 2020.

Banco Central do Brasil

Em 31 de agosto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, manter a taxa Selic em 10,50% ao ano. O destaque, foi para o tom duro da decisão.

Por meio da ata da reunião, o BC se mostrou mais preocupado com a alta do dólar e também com o seu impacto na inflação futura e declarou que "não hesitará em elevar a taxa de juros para assegurar a convergência da inflação à meta se julgar apropriado".

Um aumento da taxa, no entanto, está na mesa dos decisores, e deve ser levada em conta dependendo dos dados econômicos até a próxima reunião.

O líder de análise da Warren, Frederico Nobre, afirmou que o tom mais duro do BC trouxe uma credibilidade adicional à autoridade monetária no combate à inflação.

Esse comportamento gerou um movimento chamado "flattening" (achatamento da curva de juros), onde há uma alta nos vencimentos mais curtos e uma queda nos mais longos. 

"Esse movimento de flattening é positivo para ativos de risco e para a bolsa de forma geral. Ele mostra que o Banco Central está comprometido com o combate à inflação e que se for necessário subir juros no curto prazo, vai subir. Isso alivia as expectativas no médio e longo prazo", diz.

"Foi exatamente isso que nós vimos na curva de juros: os vencimentos mais curtos subindo e os mais longos caindo. A bolsa responde mais aos vencimentos mais longos. Então, as taxas de juros longas caindo são algo positivo para a bolsa de valores."

Uma grande preocupação do mercado também está perto de se dissipar, o que envolve a sucessão do comando do Banco Central.

Desde que Lula assumiu a Presidência do Brasil, em 2023, aumentaram os temores de interferência política dentro do BC. O presidente teceu altas críticas contra a atual presidente, Campos Neto.

Após Gabriel Galípolo, ex-número 2 de Fernando Haddad no Ministério da Fazenda, assumir o cargo de diretor de Política Monetária do BC, os receios só aumentaram.

A dúvida do mercado era se Galípolo seria um voto do governo dentro da autoridade monetária.

Com a estadia de um ano no cargo, Galípolo parece ter conquistado, uma boa parte dos agentes econômicos, com a imagem de um decisor técnico, o que contraria a vontade de Lula, que se manifesta a favor de cortes forçados na taxa de juros para aquecer a economia.

A confirmação de que Lula irá fazer a indicação de Galípolo como presidente da autoridade monetária segue em linha com o esperado pelo mercado e pode representar um alívio com relação à condução da política monetária após Campos Neto deixar o cargo.

"É uma indicação que não traz uma surpresa negativa. Ou seja, Lula não vai indicar alguém com um pensamento mais populista", afirma Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating.

"As últimas declarações e votos do Galípolo foram na direção técnica. Ele é do mercado financeiro (...) e já deu demonstrações muito claras de que tem uma biografia a ser preservada. Não colocaria isso em risco."

Para Agostini, a indicação de Galípolo "tira qualquer risco de uma volatilidade desnecessária".