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Impactos do calor intenso na saúde e na economia: organismo em risco, produtividade menor e prejuízo ao agro
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Várias regiões do mundo estão enfrentando nesse ano intensas ondas de calor. O Brasil está passando pela quarta no ano, agravada pelo El Niño e pelo aquecimento global.
- Por Camilla Ribeiro
- 15/11/2023 15h47 - Atualizado há 1 ano
O calor extremo apresenta consequências sérias para o corpo, para a mente e também para as sociedades.
No Brasil este ano já é a quarta onda de calor com novos recordes de temperatura e alerta de “grande perigo” para 15 estados e o Distrito Federal emitido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
São comuns nesta época do ano, de transição entre a primavera e o verão as temperaturas mais altas. Porém, desta vez, o calor foi intensificado pelo El Niño, fenômeno que deixa as águas do oceano mais quentes.
Outros fatores que também contribuem para o aumento da temperatura são os efeitos do aquecimento global, provocado pelas emissões de gases do efeito estufa.
Neste ano, outras regiões do mundo também enfrentaram ondas de calor extremo, como Estados Unidos, China, Índia, Paquistão e Europa.
A expectativa ainda é de piora, estudos científicos estimam que conforme a temperatura média global aumenta cresçam também a frequência e a intensidade de ondas de calor.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no Brasil, já mostram um aumento brutal entre de ondas de calor nos últimos 59 anos: se até os 1990, elas somavam 7 dias, entre 2011 e 2020 chegaram a 52 dias.
A questão é que esse calor excessivo traz consequências sérias para a sociedade, como piora de condições de saúde, prejuízos para o cultivo e a colheita de alimentos, danos à infraestrutura e redução da produtividade no trabalho.
A exposição excessiva ao calor traz sérios riscos à saúde e pode causar problemas como desidratações, tonturas, náuseas confusão mental e convulsões e até a morte,
Os riscos, em geral, são maiores para idosos, crianças pequenas e pessoas com comorbidades.
No ano de 2019, houve aproximadamente 356 mil mortes no mundo diretamente relacionadas ao calor extremo, de acordo com um artigo publicado na revista de medicina The Lancet.
Dados apresentados pela ONU estimam que, entre 2000 e 2019, 489 mil mortes por ano foram causadas pelo calor —45% na Ásia e 36% na Europa.
Nos Estados Unidos, o calor extremo já é o evento climático mais mortal de todos, com mais vítimas na maioria dos anos do que furacões, tornados e enchentes somados.
Em resposta ao calor, o corpo humano redistribui o fluxo sanguíneo, transferindo o calor dos músculos para a pele e para o ambiente na forma de suor.
Esse processo exige, segundo a Lancet, que o coração trabalhe com mais força e rapidez o que aumenta os riscos para pessoas com doenças cardíacas, por exemplo.
De acordo com a Lancet, idosos morrem mais de eventos cardiovasculares do que quase todas as outras causas de morte relacionadas ao calor combinadas.
Piora da saúde mental
Nós últimos anos, inúmeras pesquisas vem mostrado correlações entre aumentos expressivos de temperatura e problemas de saúde mental.
As ondas de calor e dias de calor extremo vem sendo associados à maior irritabilidade, ao aumento de sintomas de depressão e ansiedade e até a um maior número de suicídios.
Na hora do sono, a dificuldade de dormir bem no calor também pode agravar sintomas de doenças mentais.
Segundo um estudo publicado em fevereiro na Lancet mostrou que o aumento acima do usual de apenas 1ºC na temperatura ambiente aumenta a probabilidade de sofrer depressão e ansiedade.
Outros problemas causados por temperaturas mais altas do que o normal também podem levar a problemas de memória, atenção e de reação, segundo a Associação Americana de Psiquiatria.
Existe também evidências da relação entre temperaturas muito altas e o aumento da violência e da agressividade.
Redução de produtividade e horas trabalhadas
A produtividade das pessoas também é afetada pelo calor extremo, no trabalho pode aumentar o risco de estresse térmico (excesso de calor recebido que o corpo consegue tolerar sem comprometer as funções fisiológicas), que impacta, principalmente, aqueles que trabalham ao ar livre —como agricultores, operários da construção civil e da indústria naval— ou em espaços mal ventilados e sem ar-condicionado, caso de muitos dos milhões de trabalhadores da indústria têxtil.
Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), temperaturas acima dos 24 a 26ºC já estão associadas à redução da produtividade de trabalho.
A 33ºC ou 34ºC, trabalhadores perdem cerca de 50% da sua capacidade de trabalho em atividades de intensidade moderada.
Prejuízos para agricultura e pecuária
As temperaturas mais altas que o normal podem afetar a produção agrícola de várias maneiras, a depender da combinação com maior ou menor umidade do ar, precipitação e do tipo de cultura.
O calor pode destruir os interferir na qualidade de hortaliças, por exemplo, e reduzir os rendimentos de culturas, como soja, milho e algodão.
Em setembro, pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) recomendaram que os produtores de soja do Mato Grosso do Sul adiassem o início da semeadura para depois da onda de calor, já que temperaturas extremas no solo podem causar danos às sementes, afetando a germinação e o desenvolvimento.
Durante a onda de calor na Europa em agosto, o calor extremo e o tempo seco provocaram uma queda na safra de grãos e a colheita de trigo teve que ser feita de forma mais rápida do que o normal.
Na China, com regiões apresentando recordes de temperatura em meados deste ano, porcos, coelhos e peixes morreram por causa do calor extremo, segundo a imprensa internacional.
Sobrecarga dos sistemas de energia
Com o calor intenso aumenta o uso de ares-condicionados e ventiladores, aumentando o crescimento da demanda por energia elétrica.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), nesta terça-feira (14), registrou um recorde, pela primeira vez na história, a carga no sistema elétrico ultrapassou o patamar de 100 GW (gigawatts).
O crescimento do uso de eletricidade em dias muito quentes aumenta a pressão no sistema elétrico justamente quando as pessoas mais dependem dele e pode, eventualmente, provocar apagões e outras falhas.
Em 2020, altas temperaturas na Califórnia, nos Estados Unidos, levaram a interrupções programadas no fornecimento de energia, impactando cerca de 4 milhões de pessoas.
Na Índia, ano passado, o calor extremo também levou a cortes de energias nas fábricas para reduzir o consumo de eletricidade em meio à escassez de carvão nas usinas termelétricas.
Danos à infraestrutura
No início do mês de setembro, quando os termômetros do município cearense de Santa Quitéria marcaram 39ºC, o asfalto “derreteu” em um trecho com recapeamento que, amolecido, passou a grudar nos pneus dos veículos que passavam.
Nesse caso, o material usado foi de baixa qualidade, o que explica o fato de o problema ter sido localizado, mesmo diante de temperaturas ainda mais altas em outras cidades.
Porém, o calor extremo pode prejudicar a infraestrutura, já que muitos materiais utilizados em ruas, estradas e ferrovias, como concreto, asfalto e aço, são afetados pela mudanças de temperatura.
O asfalto pode amolecer com temperaturas mais altas. O concreto, usado muitas vezes em rodovias, pode expandir, provocando rachaduras ou encurvaduras.
No caso das ferrovias, a flambagem também pode acontecer com temperaturas mais altas do que o normal devido à dilatação do aço.
A empresa responsável pela rede ferroviária do Reino Unido publicou um comunicado para explicar que o calor tem atingido níveis mais altos do que aqueles que as linhas de trem foram projetadas para suportar, encurvando trechos dos trilhos.