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  • Petrobras registra perda de R$ 34 bilhões em valor de mercado em apenas um dia após demissão de Prates


  • O mercado não aprovou a notícia de que o presidente Lula demitiu Jean Paul Prates do comando da companhia e as ações apresentaram queda de mais de 6%.

Nesta quarta-feira a Petrobras registrou perda de R$ 34 bilhões em valor de mercado após a divulgação da demissão de Jeanne Paul Prates da presidência da empresa.

A petroleira encerrou o pregão com um valor de mercado de R$ 509 bilhões, contra R$ 543 bilhões de ontem.

A demissão de Prates, feita pessoalmente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na noite de terça-feira (14), aconteceu pouco tempo depois das polêmicas sobre a distribuição de dividendos da companhia.

Esse valor é equivalente ao valor total das ações da Hapvida, por exemplo, de acordo com levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria.

-As ações ordinárias da Petrobras (PETR3), as que dão direito a voto nas decisões da companhia, caíram 6,78%.

-As ações preferenciais (PETR4), dão preferência no recebimento de dividendos, despencaram 6,04%.

Conflitos dentro da Petrobras e visão do mercado

 A queda em massa das ações da Petrobras foi grande destaque deste pregão, após a companhia informar que Jean Paul Prates foi demitido da presidência da empresa na noite desta terça-feira.

O presidente Lula já  havia cogitado essa demissão de Prates há algum tempo após a sequência de desentendimentos do presidente da empresa com o governo federal, o principal acionista.

No entanto, gota d'água foi o desenrolar da polêmica sobre a distribuição de dividendos extraordinários pela empresa. 

Prates se declarou contra a orientação do governo de reter os dividendos e se absteve na votação do assunto, o que não foi bem recebido no Palácio do Planalto.

O ex-presidente da Petrobras também não se entendia com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, havia muito tempo. 

Prates declarou que respeita a decisão, mas afirmou que não pode deixar de dizer que o presidente foi levado a adotar a medida por uma “intriga palaciana”.

Foi usado como argumento que Jean Paul não estava entregando resultados da Petrobras na velocidade em que o governo previa.

No comunicado ao mercado que foi divulgado nesta quarta-feira (15), a estatal disse que seu conselho de administração aprovou o encerramento do mandato de Prates.

O ex-presidente da Petrobras também apresentou sua renúncia ao cargo de membro do conselho.

"Em decorrência da vacância na presidência da companhia, o presidente do conselho de administração nomeou como presidente interina da companhia a diretora-executiva de assuntos corporativos, Clarice Copetti", disse a empresa no documento.

O então diretor financeiro e de relacionamento com investidores, Sergio Caetano Leite, também foi demitido. 

O conselho de administração nomeou em seu lugar, o atual gerente executivo de finança, Carlos Alberto Rechelo Neto, de forma interina.

Frederico Nobre, chefe de análises da Warren Investimentos, disse que o mercado foi pego de surpresa com a notícia, já que os conflitos de Prates com o governo pareciam ter se encerrado.

De acordo com o analista, a notícia é negativa, porque a substituta, Magda Chambriard, seria em sua visão uma executiva com um "viés ideológico mais próximo do desenvolvimentismo".

"Avalio como bastante negativa, primeiro porque traz uma falta de credibilidade, insegurança. Jean Paul Prates estava fazendo um trabalho bem razoável, era um cara bem ponderado, que vem do setor, que conhece a empresa. Fazia uma gestão bem tranquila, tinha um diálogo com o mercado e também com representantes do governo", pontua.

O chefe de análise de ações da Órama, Phil Soares, tem um ponto de vista diferente. Para ele, a indicação de Magda não é negativa, tendo em vista que ela é uma profissional com uma "parte técnica muito boa" e de uma "carreira bem sucedida", sendo a indicação "bastante adequada".

"A gente acredita que a notícia (da demissão) é ruim, mas não muito ruim. Então, o papel deve cair, mas sem tanto pessimismo", afirma Soares.

Analistas do BTG Pactual, em relatório, afirmaram que apesar de a notícia ter sido especulada no início deste ano, a mudança repentina foi considerada "surpreendente" e negativa.

A estimativa é que os investidores comecem, mais uma vez, a "precificar riscos maiores de interferência política na empresa".

"Neste momento, podemos apenas especular sobre as razões que podem ter motivado a decisão de substituir Jean Paul Prates. Mas é possível que isso decorra de alguma insatisfação do acionista controlador sobre o ritmo de investimentos da empresa", completaram os analistas do BTG no documento.