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  • Transição de carreira está sendo tendência entre os profissionais, segundo pesquisa


  • No entanto, a mudança de profissão é um privilégio para poucos e acarreta muitos desafios, conforme explica a psicóloga do trabalho Camila Caldeira

Um levantamento realizado no início deste ano do LinkedIn, rede social profissional, apontou que 60% dos trabalhadores brasileiros cogitam mudar de emprego neste ano e que 20% já iniciaram as metas na  busca por um novo trabalho. 

Essa pesquisa contou com a participação de 23 mil trabalhadores de todo o mundo, dos quais 1300 são profissionais brasileiros.

Muitos desses trabalhadores para optar pela troca de carreira usam como argumento a busca por autossatisfação e bem-estar com o trabalho, aspectos que estão ganhando espaço entre a população.

Por outro lado, buscam a transição da carreira por conta da insegurança financeira na atual posição que desperta a necessidade de mudança.

Esse fenômeno, segundo a psicóloga do trabalho Camila Caldeira, não é livre de desafios e pode gerar medos e arrependimentos. “Partimos do pressuposto que as pessoas que optam pela transição [de carreira] já gozam de uma boa condição financeira e estabilidade. Então, como desapegar? É nesse momento que elas se questionam sobre os riscos dessa decisão”.

Ela aponta que as pessoas com esse privilégio não buscam somente estabilidade financeira, “ mas também estarem satisfeitos e com um trabalho adequado aos seus anseios, cotidiano e, até mesmo propósitos”.

No caso de Rafael Tessaro, de 26 anos, a satisfação com o que faz veio em primeiro lugar. “Passei para a polícia, sonho de menino. Mas mudei. Fui cursar engenharia civil, trabalhei no mercado imobiliário, mas saí”.

Logo depois, ele entrou no mercado financeiro, mas também observou que aquela não era a sua área. Hoje, administra um e-commerce de moda feminina.

Ao ser questionado se estava feliz com o seu negócio, ou se teve algum arrependimento sobre suas trocas na trajetória profissional, ele respondeu, respectivamente, que “sim” e que “não, sem arrependimentos”.

Porém, transitar de uma profissão para outra foi um desafio para Rafael, o que o fez duvidar sobre a probabilidade de suas escolhas darem certo e do risco de ficar desocupado, como ocorre com 10% dos brasileiros, segundo o IBGE.

Esse sentimento também foi o de Andressa Bovolenta, de 32 anos, profissional de TI e educadora física. “Estudei educação física na USP e, depois de um tempo, consegui um bom retorno financeiro, trabalhando em uma academia”, disse.

No entanto, a rotina afogava Andressa, o que a obrigava a deixar em segundo plano outras atividades do dia a dia. Daí, veio a ideia de mudança de carreira.

Hoje ela trabalha como analista de software para um grande banco, se diz feliz com a transição profissional que fez, embora continue dando aulas de personal trainer para complementar sua renda. “Mas foi em TI que me redescobri”.

Para os brasileiros, a transição de carreira ainda não é uma realidade concreta, alguns fatores como desemprego e instabilidade financeira ainda assolam a boa parte da sociedade.

 “Por isso, esse desapego com a atual posição é um privilégio. Não são todos que podem trocar de profissão no Brasil”, alerta Camila.

Ela completa que é comum entre as pessoas que apostam em uma nova profissão “o planejamento, uma reserva financeira e a realização de novos cursos, o que não é uma realidade acessível para todos”.