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  • Especialistas dizem que o IPCA acima das previsões desaponta expectativas de aceleração nos cortes de juro


  • IBGE anunciou um aumento de 0,42% em janeiro para o índice da inflação, superando o esperado pelo mercado

Os alimentos, um grupo de grande peso no orçamento das famílias, impulsionaram a inflação de janeiro, medida pelo IPCA, superando as expectativas de especialistas.

E, como consequência, decepcionando as previsões de uma possível aceleração do ritmo de corte de juros pelo Banco Central.

Depois de estabilizarem ao longo do ano anterior, os preços dos alimentos registraram a maior alta para o primeiro mês do ano em oito anos.

"No final das contas, quem esperava que esse IPCA de janeiro chancelasse uma eventual aceleração do corte de juro para a próxima reunião acabou se frustrando", relata Etore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) compartilhou um aumento   de 0,42% em janeiro para o índice responsável por medir a inflação. 

O esperado pelo mercado era de que o índice rondasse os 0,34% para o mês, de acordo com pesquisa da Reuters.

Sanchez acredita que os dados devem impactar as perspectivas do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), mas não a ponto de desviar seu atual plano de voo, de cortes em 0,50 ponto percentual.

O economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, reitera que o dado chegou "ruim" e projeta impacto em contrato de juros futuros (DIs).

Segundo o especialista, o resultado reforça discussão sobre a possibilidade de a recuperação da economia e aquecimento do mercado de trabalho - tendência no início deste ano - pressionar a inflação na sequência de 2024.

"E é óbvio que isso vai impactar na decisão do Copom sobre sua Selic terminal, se em torno de 8% ou 9%", acrescenta. A taxa está em 11,25% atualmente ao ano.

Segundo a análise do Banco Inter, existe a possibilidade que ocorra reversão nos preços de commodities alimentares, o que poderia contribuir para uma desaceleração da inflação de alimentos. 

Desse modo, não ocorreria impacto nas decisões do Copom.

"Ainda assim, não acreditamos que esses sinais ainda não são suficientes para ensejar uma mudança na condução da política monetária por parte do Copom", aponta.

Durante os 12 meses até janeiro, o IPCA teve elevação de 4,51%, contra alta 4,62% do mês anterior.

Para o ano atual, o centro da meta para a inflação, medida pelo IPCA, é de 3,0%, com uma margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Alimentícios 

A alta do grupo Alimentação e Bebidas acelerou 1,38% no mês do ano, de 1,11% em dezembro, marcando alta para um mês de janeiro desde 2016 (2,28%).

Paulo Gala ressalta que entre as altas está o registro de 0,76% nos serviços subjacentes, que são menos voláteis e vulneráveis à sazonalidade.

"O aumento nos preços dos alimentos é relacionado principalmente a temperatura alta e às chuvas mais intensas em diversas regiões produtoras do país", explicou o gerente da pesquisa, André Almeida.

Os preços dos alimentos para o consumo em domicílio aumentaram 1,81% em janeiro.

Principalmente influenciado devido aos avanço nos preços da cenoura (43,85%), da batata-inglesa (29,45%), do feijão-carioca (9,70%), do arroz (6,39%) e das frutas (5,07%).

"Historicamente, há uma alta dos alimentos nos meses de verão em razão dos fatores climáticos, que afetam a produção, em especial, dos alimentos in natura, como os tubérculos, as raízes, as hortaliças e as frutas. Neste ano, isso foi intensificado pela presença do El Niño" completou Almeida.