:

  • Famílias brasileiras gastam menos; entenda a relação com o PIB


  • Orçamento da família brasileira segue apertado e destinado, principalmente, para as contas básicas mesmo após aumento de salário mínimo e Bolsa Família.

O crescimento do Produto Interno Bruto Brasileiro (PIB) no primeiro trimestre 2023 surpreendeu as expectativas. O crescimento foi de 1,9% enquanto o esperado seria 1,2%.

Esse fato ocorreu por conta da disparada de 21,6% do agronegócio.

Apesar desse crescimento o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE), divulgou dados que mostra uma desaceleração do consumo das famílias brasileiras nos últimos trimestres.

De acordo com alguns especialistas essa queda no consumo vem acontecendo devido a fatores como: alta da inflação; carestia de produtos essenciais como alimentação, energia elétrica e combustíveis; juros altos e baixos níveis salariais.

Por que houve essa queda de consumo?

Um  dos fatores que causam mais relevância na desaceleração do consumo das famílias é a inflação.

De acordo com Matheus Pizzani, economista da CM Capital, a queda do consumo das famílias começaram no ano de 2021.

Pontos como a pandemia e a crise hídrica que atingiu Brasil fez com que o preço de muitos produtos subissem, principalmente a energia elétrica.

“Não tem como negar o impacto que a eletricidade tem sobre as contas, pesa bastante. Depois, em 2022, as coisas ainda nem tinham melhorado e começou a guerra na Ucrânia, o que pressionou muito o preço das commodities, principalmente o petróleo", diz.

Alta do combustível que gera um aumento dos preços de todos os produtos, já que estes dependem de transportes, muitos itens consumidos pelas famílias brasileiras aumentaram corroendo dessa forma o poder de compra, já que a renda familiar não acompanhou a inflação.

O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tem arrefecido, com a queda anual de 12,13% no mês de abril de 2022 para 4,8% em abril de 2023.

Esses dados nos mostram que os preços passaram a se elevar com menos força e velocidade, conforme explica o analista e sócio da Performa Investimentos, Victor Miziara.

“A inflação permanece alta. Já começou a desacelerar um pouco, mas o aumento dos preços que a gente viu no último ano permanecem. Assim, as famílias vão perdendo a capacidade de compra e queimando as suas reservas para, durante um tempo, manterem a qualidade e quantidade do que elas compram", afirma Miziara.

Juros atrapalham o consumo

O poder de compra das famílias ainda é atacado com juros altos somados à inflação. De acordo com Miziara, as taxas altas “comem” o que poderia restar do salário, parcelas de financiamento, por exemplo, ficam maiores e o dinheiro acaba sendo usado para arcar com esse custo.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, o poder de consumo das famílias poderia ter queda ainda mais alta nesse trimestre, caso o governo não tivesse criado estímulos, como aumento do salário mínimo e o aumento do Bolsa Família.

“O melhor nível de emprego também contribui para amenizar o impacto do aperto monetário, mas o endividamento das famílias ainda está elevado, com alto custo devido ao maior patamar dos juros", enfatiza.

Segundo Rafaela, ainda não podemos esperar um maior consumo das famílias nos próximos trimestres, isso porque a taxa básica de juros (Selic) não apresenta perspectiva de queda.

Onde as famílias estão gastando dinheiro?

A renda familiar continua sendo usada para pagar as contas básicas como moradia e alimentação,  segundo Pizzani. O pouco que sobra é investido em produtos de baixo valor e que não tem margem para o aumento de preços por parte de produtores e também dos comerciantes.

Já os itens que possuem maior valor agregado são poucos atrativos para os consumidores, por exemplo, eletrodomésticos automóveis.

Torna-se dificultoso a compra desses produtos por conta dos preços altos que já possuem e os custos de crédito com juros elevados.