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Carla Zambelli e hacker Walter Delgatti são indiciados por invasão do site do CNJ
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A investigação realizada encontrou no celular da deputada os documentos falsos que foram inseridos por Delgatti nos sistemas do Judiciário. Segundo a PF, conduta de Zambelli foi 'incompatível' com o mandato.
- Por Camilla Ribeiro
- 29/02/2024 22h10 - Atualizado há 8 meses
Em conclusão ao inquérito sobre a invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), registrada em 4 de janeiro de 2023, e indiciou o hacker Walter Delgatti Neto e a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) por suspeita de terem cometido diversas vezes os crimes de invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.
No processo de hackeamento do CNJ, foram inseridos documentos falsos no sistema do Judiciário, como uma falsa ordem de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), imitando a assinatura do próprio.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) analisará o relatório da PF e decidirá se denuncia ou não Carla Zambelli ao STF.
Uma possível denúncia, se recebida pelo Judiciário, marcaria o início da ação penal que pode levar à condenação ou absolvição. O relator dessa investigação no STF é Moraes.
O advogado de Zambelli, Daniel Bialski, disse em nota que ela não fez nenhum pedido para Delgatti invadir o sistema do CNJ.
"A defesa da deputada Carla Zambelli conquanto ainda não tenha analisado minuciosamente os novos documentos e o relatório ofertado pela Polícia Federal, REFORÇA que ela JAMAIS fez qualquer tipo de pedido para que Walter Delgatti procedesse invasões à sistemas ou praticasse qualquer ilicitude", declarou o advogado.
O advogado de Delgatti, Ariovaldo Moreira, disse que "não se surpreende com o indiciamento dele, pois, desde sua prisão, Walter confessa sua participação na invasão da plataforma do CNJ".
"O indiciamento de Carla Zambelli confirma que Walter, a todo momento, colaborou com a justiça, levando a PF até a mandante e financiadora dos atos perpetrados por ele. No mais, a defesa pretende reiterar o requerimento que tem como objetivo a liberdade de Walter, ausente motivo para manutenção da custodia cautelar, uma vez encerrada a investigação", disse Moreira.
Esse será o primeiro inquérito concluído pela PF envolvendo aliados próximos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em contextos de ataque à democracia.
Zambelli ficou em segundo lugar como a deputada federal mais votada de São Paulo, com quase 1 milhão de votos, e era uma das principais aliadas do ex-presidente.
As vésperas da eleição, em 10 de agosto de 2022, ela levou Delgatti para um encontro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada para falar sobre urnas eletrônicas.
Invasão do sistema do CNJ
Apesar da PF não ter encontrado trocas de mensagens entre Zambelli e Delgatti, ele relatou aos investigadores que apagava as conversas por precaução, foram achados nos equipamentos pessoais de Zambelli, apreendidos em agosto, quatro documentos falsos que foram inseridos criminosamente pelo hacker no sistema do CNJ.
A minuta da falsa ordem de prisão contra Moraes foi publicada pela imprensa na noite de 4 de janeiro, três horas após Zambelli recebê-la do hacker.
Essa divulgação na imprensa alertou o CNJ sobre o hackeamento e motivou a investigação pela PF.
A polícia acredita que foi Zambelli que, após instigar o hacker a cometer a invasão do CNJ, divulgou o documento a jornalistas com o objetivo de difundir suspeitas sobre a credibilidade do Judiciário.
Na época, apoiadores de Bolsonaro utilizaram o caso para questionar nas redes sociais a lisura do processo eleitoral conduzido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), presidido por Moraes.
A divulgação dobre da invasão do CNJ ocorreu às vésperas dos atos golpistas do 8 de janeiro.