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  • Atos golpistas: novos ataques e investidores


  • Os documentos entregues à CPI dos Atos Golpistas contém o plano da tentativa de golpe.

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investiga os ataques de 8 de janeiro. Com isso, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) entregou para a CPI 11 documentos que relatam a organização do ataque dos prédios dos Três Poderes.

Nos arquivos há os suspeitos investidores e divulgadores dos atos, o plano de organização que afetou as torres de energia e sistemas de controle.

Os 11 documentos são divididos assim:

1.Empresários que contrataram ônibus fretados para transportar os golpistas

2.Envolvimento de empresários do garimpo no financiamento dos atos

3.Empresas transportadoras que deram suporte às ações violentas

4.Ameaça de novas ações violentas como identificação de explosivos em locais públicos e sabotagem de sistemas industriais 

5.Ataques às torres de linhas de transmissão de energia com o objetivo de causar prejuízo no abastecimento 

6.Influenciador digital que participava de grupos extremistas em redes sociais com convocações para os atos golpistas

7.Participante dos atos extremistas que auxiliou bolsonaristas a saírem do DF

8.Intensificação da atuação de extremistas violentos da direita

9.Mapeamento dos presos e foragidos no 8 de janeiro

10.Identificação de grupo extremista violento em Brasília que poderia ameaçar a posse do presidente Lula 

11.Empresários do agronegócio que patrocinaram os ataques de 8 de janeiro e articularam anteriormente diversos atos por intervenção militar e em apoio a Bolsonaro

Confira os detalhes:

1.Empresários que contrataram ônibus fretados para transportar os golpistas

A Abin conseguiu identificar 83 pessoas e 13 organizações que empregaram 103 ônibus para levar 3.875 pessoas (todas já identificadas) a Brasília.

De acordo com o mapeamento, grande parte dos contratantes são da região Sul e Sudeste.

Porém, "é provável que diversos contratantes tenham sido utilizados como 'laranjas' com objetivo de ocultar os verdadeiros financiadores das caravanas e dos manifestantes".

Dois investidores identificados foram: Pedro Luis Kurunczi ,empresário em Londrina (PR) no ramo de engenharia, e Marcelo Panho, de Foz do Iguaçu (PR).

Ambos tiveram papéis de fretar ônibus para levarem a Brasília, além disso eles também já foram alvos da operação Lesa Pátria, que ocorreu em fevereiro da Polícia Federal.

2. Envolvimento de empresários do garimpo no financiamento dos atos golpistas

Foram identificados Roberto Katsuda e Enric Lauriano, os dois possuem relação com o garimpo e política do local.

Desde de 2018, ambos participavam de encontros com políticos, inclusive Jair Bolsonaro. Os encontros tinham o intuito de liberar o garimpo em Unidades de Conservação e Terras Indígenas. 

Devido a esses proprietários foi proposto a lei (PL) 191/2020, que tem como objetivo regulamentar o garimpo em terras indígenas.

A Abin generaliza o empresário Katsuda como: "notório defensor de garimpos em áreas protegidas e visto como um dos maiores articuladores políticos".

3. Empresas transportadoras que deram suporte às ações violentas

"A idade dos caminhões reforça o indício de envolvimento de grupos empresariais. Veículos de caminhoneiros autônomos têm, em média, 18 anos de uso. No entanto, aproximadamente 65% dos caminhões presentes nos comboios são novos e seminovos (ano modelo a partir de 2019). Somente 18 dos 272 caminhões analisados (6%) têm 18 anos ou mais."

Segundo a Abin dos 272 veículos prestados no envolvimento, 132 deles são relacionados a organizações empresariais no financiamento ao acampamento no QG do Exército. 

E os outros 140, estão cadastrados em nomes de pessoas físicas, porém não pertenciam a caminhoneiros independentes.

4. Ameaças de novas ações violentas como identificação de explosivos em locais públicos e sabotagem de sistemas de controle industriais

A Agência também informou que o rumo dos ataques poderiam mudar, isto é, em vez de manifestações, o risco para se tornar mais perigoso iria aumentar.

Com possibilidades de outros ataques, sabotagens, danificação em sistemas de controles.

Exemplo disso ocorreu no dia 10 de janeiro, em Feira de Santana (BA), uma mochila encontrada em um viaduto possuía itens explosivos conectados a uma placa eletrônica.

E no dia seguinte, 11 de janeiro, na Rodoviária do Planalto Piloto, em Brasília, foi achado um explosivo, que logo foi detido pela polícia.

5.Ataques às torres de linhas de transmissão de energia com o objetivo de causar prejuízo no abastecimento 

• No Mato Grosso, em Cuiabá, a Eletronorte identificou que parafusos foram removidos da parte inferior da torre.

•Na torre de Rio das Pedras diversas peças de sustentação foram removidas no dia 12 de janeiro, em São Paulo.

• As linhas de transmissão da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chefs) foram danificadas, no dia 14 de janeiro.



6.Influenciador digital que participava de grupos extremistas em redes sociais com convocações para os atos golpistas

Um jovem de 24 anos participava de 119 grupos no Telegram, incentivando a resistência civil contra o Estado.

Ele se baseava no que aconteceu na Ucrânia, em 2014, com o intuito de criar células de “autodefesa” em todo o território brasileiro para conter o governo de Lula. Veja:

“Além de trocarmos informações, devemos buscar nos organizar em células de autodefesa locais, porque a partir do momento que eles dominaram tudo, seus ‘coletivos’ como na Venezuela, já não teremos muito o que fazer”, escreveu isso em um dos seus grupos, no dia 16 de janeiro.

7.Participante dos atos extremistas que auxiliou bolsonaristas a saírem do DF

Um indivíduo que já se candidatou a deputado distrital em 2022 pelo PTB, distribuía bilhetes para os bolsonaristas que estavam em frente ao QG do Exército em Brasília.

Esses bilhetes tinham o intuito de dizer para eles saírem e voltarem para os seus estados.

8.Intensificação da atuação de extremistas violentos da direita

“A disseminação de narrativas de incentivo à violência, somada ao emprego de discurso conspiratório, à difusão de notícias falsas e à veiculação de reivindicações de ruptura democrática, aumenta o risco de radicalização de indivíduos isolados ou pequenos grupos com potencial para mobilização para ação extremista violenta”, diz no documento.

O plano inicial era que acontecesse no dia 6 de janeiro, fazendo referência à invasão do Capitólio, nos Estados Unidos.

Os atos foram planejados e eram nas mídias que a organização acontecia:

“Circularam em mídias sociais e aplicativos de mensageria instruções para confronto com forças de segurança, incluindo contramedidas em caso de uso de gás lacrimogêneo”.



9.Mapeamento dos presos e foragidos no 8 de janeiro

A agência citou o nome de 28 pessoas que não haviam sido presas até 26 de janeiro, entre elas há organizadores, influenciadores, empresários e outros.

10.Identificação de grupo extremista violento em Brasília que poderia ameaçar a posse do presidente Lula 

Um relatório mais antigo, feito no ano passado, já tinha identificado um possível ataque através de alguns sinais.

Algum desses sinais foi a postagem de vídeos, em 22 de dezembro, que dizia “a partir de então seria iniciada nova fase dos atos de protesto, pois o povo estava inflamado e não iria entregar o país ao crime político organizado”.

11.Empresários do agronegócio que patrocinaram os ataques de 8 de janeiro e articularam anteriormente diversos atos por intervenção militar e em apoio a Bolsonaro

Segundo o arquivo, o Movimento Brasil Verde e Amarelo (MBVA) foi um dos principais integrantes defensores da intervenção militar.

"Com capacidade de mobilização nacional, o MBVA organizou atos em Brasília que contaram com deslocamento de máquinas agrícolas, caminhões e caravanas de suas áreas de influência local. A partir da articulação da sua rede de contatos nas Aprosojas e nos sindicatos rurais, o grupo demanda e coordena doações em suas bases. Os protestos geralmente ocorrem após o período de colheita da soja (entre janeiro e abril no centro-oeste) quando há mais disponibilidade de máquinas e pessoal."